domingo, 29 de julho de 2012

Um conto para Fátima - Coisas da vida.

"Na gaveta de um criado mudo na cabeceira de uma cama de uma mulher apaixonada onde ela guarda seu diário a 7 chaves....ou um livro onde ela lê o mesmo livro a vários anos e querem descobrir que livro e esse pra ser relido sempre. (Viajei muito?????)" - Por Fátima Carvalho

Outro dia pedi aos amigos de um grupo de artes, sugestões sobre oratórios tendo como base uma gaveta que seria descartada... Como muitos já sabem, muito antes do assunto sustentabilidade virar moda, eu já era uma catadora oficial de descartados e reutilizados... Com o tempo, o que era hobby virou coisa séria e por incrível que pareça, meu estilo vintage e bem cinquentinha (anos 50) acabou contagiando muita gente ao meu redor!

O engraçado disso tudo é que a minha doce amiga Fátima, tão solícita, leu "oratória" ao invés de oratório e isso se transformou em um bate papo descontraído e gostoso de se ler, lá nos posts do Facebook... E foi assim que ela sugeriu, sem saber, um tema bem gostoso para um conto... Só que isso complicou minha vida, pois não consigo escrever o que sinto, dentro de algum contexto pré estabelecido, formatado, engessado... E agora José?

Me lembrei que quando era adolescente, curtia uma paixãozinha por um garoto mais velho que veio morar em meu bairro. Claro que ele nunca soube! Me lembrei da minha sobrinha de 08 anos que é apaixonada pelo Neymar (jogador de futebol do Santos) e me coloquei na ternura que é ter o tempo todo para alguém, na poesia da vida que transforma meninas em doces mulheres, na construção dos dias em livros e diários, cujas páginas são a vida da gente.

A Fátima me fez encontrar a adolescente que fui nesses dias... A Cau que tinha tantos medos e sonhos foi se chegando tímida diante da mulher que a esperava, estranhamente fiquei com receio dela me culpar por ser o que sou hoje, medo dela expor todas suas dores e me dizer: " - o  que fazer com elas?" Mas a Cau nada fez. Ficou ali, em minha mente, olhando com um indefinível olhar de quem nada pôde fazer diante de minha vida agora. E olhando assim, tão firmemente, vi que estou envelhecendo, como todo ser humano, como todo caminhante em uma estrada que se inicia e se finda...

A doce Cau que se transformou nesta mulher que sou é o reflexo dos dias que se passaram, dos sonhos, dos amores, das relações de amizade e calor humano. A doce Cau é a ternura dos dias que se assemelham a uvas colhidas tardiamente, cujo perfume impregna nas mãos e no paladar....

As dores da alma a gente pode carregar feito fardo pesado no caminhar, Claudinha querida, mas é bem melhor deixá-las como pegadas no caminho, e ir assim, ao sol do fim da tarde, colhendo uvas (quase passas) e saboreando todo mel, todo o prazer de chegar ao final com a doçura vivida, aos 15, aos 30 e hoje andando livre pelos 40 e poucos anos.

Um doce cacho de uvas para você, Fátima Carvalho!

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