domingo, 10 de maio de 2015

Um ser - Mãe.

Reminiscencias de cada uma delas...

Perdi minha mãe muito cedo. E para dizer a verdade, naquele tempo a gente era tão inocente que o impacto da morte não era o fim de mundo quando se tinha entre sete a oito anos. Era como uma viagem para longe sem data marcada para voltar. O complicado era assimilar aquele choro todo, abraços apertados e as frases do tipo: "coitadinhos, perderam a mãe tão cedo!" - Aos sete ou oito anos em qualquer época da história da humanidade, seja quem for, será criança. E eu era uma!

Cresci sob a tutela de minha avó paterna e o olhar rigoroso de minha tia. A casa se transformara em uma sucursal da "Família Oliveira" - brigas de família, filho respondão, neto preguiçoso... de tudo e mais um pouco aparecia lá em casa, sempre aos domingos, quando a mesa farta e o olhar generoso de minha avó martelava as sentenças conciliatórias de cada processo familiar.

O tempo e suas mazelas levaram minha avó para o outro plano. Restaram-me, meu pai, minha tia e meus irmãos... A casa jã não era mais a mesma nos almoços de domingo. Começamos a fazer meio que um rodízio de almoços em família em cada final de semana, na casa de uma tia... Era divertido.

Novamente o tempo e suas estações - Minha tia foi buscar seu espaço e construir seu mundo, seu lar. Foi doído, foi sofrido, foi um longo aprendizado.

Crescer sem mãe faz a gente entender o mundo de uma forma bem diferente. A gente observa as pessoas em sua pluralidade. De forma menos egoísta, mais espontânea, sem muita frescura. - Assim, fui adotando as mães de amigas minhas como mães também, isso aconteceu com a mãe da Ana Carolina lá na adolescência, com a mãe da Eloísa na juventude, com a mãe do Igor já na maturidade e todas as tias eram "meio mães" que até hoje, tantos anos depois, ainda as tenho como se assim fosse.

Mas, embora tenha uma gratidão imensa pela generosidade de cada uma delas. Minha gratidão por esse "Ser Mãe" não se iguala ao ser humano especial de três grandes mulheres: 

Dona Ormy, minha mãe biológica, que embora tenha ficado pouco tempo conosco neste mundo, teve o cuidado de deixar plantado em cada coração da família a sua essência, o seu caráter forte, sua postura sempre na vanguarda do seu tempo, refletiu-se em cada filho, de certa forma somos muito do que ela deixou plantado aqui - fomos colhendo seus frutos nas lembranças de cada tia sobre como ela era. Desta forma, acho que embora não houvessem mais fotos dela em nossa casa, havia o respeito, a admiração pelo "Ser Mãe" que ela deixou pra gente. 

Dona Josina, minha avó paterna, doce feito um quindim. Pequenina, mãos ágeis no crochetear de joguinhos de penteadeira e cozinha... olhinhos verdes que viam o mundo além de seus parcos conhecimentos, coração generoso que acolhia com profundo amor essa família cheia de nuances. 

E em terceiro lugar, mas não menos importante, aquela que veio por necessidade, por vontade divina, por amor ao seu irmão - Minha tia, Lila, dindinha de todos os sobrinhos, na época em que tudo aconteceu, era para meus olhos infantis, parecia-me muito austera, quase uma dama inglesa, hoje sei que foi seu escudo de força, a forma que teve de se proteger das armadilhas do mundo. Sua força foi nosso escudo perante as maldades alheias. Seu olhar, muitas vezes endurecidos, sua tez quase sempre franzida, era a vontade de acertar em nos tornar gente de bem.

Dindinha mesmo é dona Marlene. Coração maior que o mundo. Não consigo falar sobre ela sem me emocionar profundamente... Não há explicação para este amor que vai além do eu consiga definir... Todas as vezes que a vejo, ou conversamos por telefone, repito: - Sou muito grata a minha mãe por ter me dado a senhora como minha madrinha. Tia Marlene é isso. Amor de gratidão, amor de bondade, amor de semeadura.... Amor que renova, multiplica, se expande com o passar dos anos, como perfume que vai saindo devagarinho do frasco bem guardado.

Recentemente, ganhei um irmão de alma. A vida é assim. Quando menos a gente espera ela nos presenteia. Igor chegou em minha vida, agregando mais sensibilidade, força, luz e companheirismo em meus dias... Trocamos ideias, nos afogamos em lágrimas de saudades, brindamos natais e anos novos á distancia através da webcam e graças a internet - contamos os dias para o reencontro e por tantos outros motivos sou e serei eternamente grata a minha outra mãe... Minha mãe Eunice... Não a conheci, não deu tempo... Mas lá no meu íntimo, tenho a certeza que já nos conhecemos através do relógio do tempo que muda as horas do encontro e antecipa ou atrasa nosso próximo destino.

Se existe um coração grato a Deus por tantas mães, este é o meu. Perdi minha mãe cedo, mas de tantas mães que adotei como minhas, aprendi a olhar para o mundo e para as pessoas com olhar de compaixão e agradecimento... Sou um ser que aprendeu que não faz falta o "não ter" mãe quando se tem um pouquinho de cada mãe que o mundo pode me dar. Não me fiz de vítima, como esperavam... Não sou e nunca fui a coitadinha que perdeu a mãe cedo demais... Ela não se foi. Sempre esteve aqui, perto de mim, no coração, no meu olhar, no meu mundo mais íntimo, nas minhas preces... É a mão consoladora que veio em forma de tantas outra mães ao longo do tempo...  E desta forma posso dizer: Sou uma filha afortunada.

Feliz dia das Mães. 

Para todas as mães que passaram por minha vida meu coração agradecido.