terça-feira, 22 de setembro de 2015

Marionete.

Recentemente, conversando com uma amiga, falamos da forma prática e quase mecânica como que os relacionamentos tem se tornado frios e muitas vezes, enigmáticos.

Pontuamos a dificuldade em que os homens e mulheres vem tendo para agradarem seus parceiros. E o quanto de tempo e energia é dispensada em situações em que um simples gesto espontâneo resolveria...

Sim, isso é coisa mais simples do mundo. Não precisa de muito. - Basta um elogio sincero, um sorriso nos lábios, abrir a porta do carro, surpreender com um telefonema fora de hora... Coisas que nesses tempos ditos modernos, quase não se vê mais.

O mais estranho é que esse embotamento afetivo vem se tornando tão usual que impressiona. Não só acontece em jovens que se perdem em redes sociais e escusos sites de relacionamentos, mas atingem também os que já passaram dos quarenta e tiveram uma juventude longe dos acordes tecnológicos atuais.

Mais tradicionais, seríamos nós, os quarentões, os que mais deveriam observar essa sutileza da modernidade. No entanto somos os que parecem não ver ou fingem não ver e sentir a necessidade de dar mais atenção e afeto a quem se encontra ao nosso lado. Relacionar parece ser uma coisa de outro mundo, uma dificuldade suprema, uma preguiça tediosa e insana de entender o outro, conhecer o outro, se ver no outro...

E vamos engessando nosso coração e mente como se fosse a dureza da cal, a certeza de nossa misericórdia afetiva.

Esse novo caminhar da sociedade, nos faz parecer como psicóticos sociais sem forças motrizes para mover-se em direção ao consciente. Vivemos assim, presos em seus espectros, sem conseguir sequer esboçar os sentimentos que possuímos.

Também, penso, se conseguem falar sobre eles (os sentimentos), não conseguem ir além disso... Se esforçam, mas como marionetes, estão presos nas densas cordas do destino.

Pobres brinquedos sem alma. Pensam que sabem demais. Mas nada sabem. Vivem por viver. Traçam rotas e planos achando que fazem por si, mas esquecem das cordas aos quais estão presos. Sonham voar alto feito pássaros que singram os céus, mas ao olharem para cima só veem as astes aos quais pertencem. Todo seu reino se traduzem em uma latente agonia...

Que destino cruel esse, ser boneco de cordas.

domingo, 6 de setembro de 2015

A Riqueza na Simplicidade...

Se tem uma coisa que admiro no ser humano é a sua essência... Admiro, porque a essência da pessoa nada tem a ver com a educação que foi dada, com o patrimônio adquirido, com o grau de influência que tem com esse ou aquele escalão elitista.

Nada se compara a pessoa que se destaca por seus bons argumentos, seu senso de humor aguçado, sua imprevisibilidade... 

Não tenho o hábito de repetir ou escrever "o que me contaram" mas recentemente deu-se um fato que muito me marcou, poderia ser apenas um inusitado "boa tarde!" se não me fizesse meditar profundamente sobre a natureza humana, seus egos e novamente a sua essência. 

O fato é que numa volta do trabalho para a casa, um amigo se encontrou em um semáforo, num dia de sol causticante. Ele, em seu carro importado, ar condicionado e boa música a servir-lhe de refúgio ao calor e tédio - foi abordado por um vendedor ambulante, desses que vendem balas... E sem o menor ar de confronto ou desrespeito, sorriu abertamente e disse: - " Ei cara, quando acabar me devolve o meu carro!"

Meu amigo, misto que surpreso e satisfeito com a coragem e com o bom humor do cidadão, ali, sob o sol de quase 32 graus, respondeu de pronto: - " Claro amigo, só tomei emprestado, terminando, te devolvo." 

Dito isso com o mesmo sorriso largo e doce com quem foi dirigido, meu amigo se lembrou que também nasceu pobre e que lutou muito para chegar onde chegou. O sorriso sincero e humilde deste vendedor, foi um brinde para este amigo que me contou esta história... Pobreza não mata ninguém. O trabalho, quando honesto, não mata ninguém, não é desonra e nem o torna menos nobre. Muito pelo contrario, mostra o lado honesto e simples de se viver. 

Há diversas maneiras de contar a mesma história. Este meu amigo, ao contá-la, trouxe-me as suas verdades, suas dores, não por ser rico e envergonhar-se de ter um padrão financeiro que nem eu mesma tenho. Mas por não se importar-se de ter a origem que tem, de se igualar em trabalho e humildade aquele ambulante... O respeito atravessa as classes trabalhadoras e os cargos aos quais ocupamos na sociedade. Pé no chão ou carro importado, somos todos seres humanos que se encontram aqui de passagem e cumprem cada um o seu destino, a sua etapa de evolução.

Ter posses e ser avarento é como ser pobre e comer pão duro.
Ser pobre e ficar feliz com uma refeição magra e compartilhada é porém, a mais honesta das bem aventuranças com o mundo. - O olhar sob o outro nos transforma se formos generosos com nossos iguais. Sem medo do que é espontâneo, do que é sincero. - Quem nos garante que este simples vendedor possa vir a ser o milionário de amanhã?

A riqueza é o nosso coração aberto em todos os momentos da vida. O dinheiro favorece sim, a construção de homens e mulheres mais preparados ao fazer o bem pela humanidade e por si mesmo. Caridade, trabalho, altruísmo e acima de tudo paz no coração, trazem consigo, sorrisos largos, muito largos, sejam sob o sol quente da tarde, ou sob o teto refrigerado de uma BMW.

Paz e Bem. Sempre!