segunda-feira, 27 de julho de 2015

Da falta de coragem ao renascer...

Da falta de coragem...


E finalmente crio coragem para sentar e falar da falta que você me faz. Ouço as músicas que talvez você nem goste, caminho pela casa como uma sombra de meus pensamentos confusos e desconexos, nas mãos uma xícara de café e nos cabelos desgrenhados a história que não sai, mas que pulsa como minhas veias, explodindo na necessidade de sua presença.

Tento alcançar o fio que permeia a ilusão e a razão desta busca insana de mim em ti. Como explicar a falta que você faz em mim sem eu ao menos poder tê-lo?

Minha dor se fundamenta ainda mais nas canções de amor que estranhamente me tornam mais e mais ébria de tanta saudades... Outro café. Mais alguns passos, agora em direção a janela... sorrio para o vizinho que de longe me espia, vê meus pensamentos?... Subido, volto a peregrinação de meu desejo intenso de tocar o céu através de você, de ouvir a letra certa desta história que no silêncio de mim e de ti se inicia... Tudo é tão tenro que tenho receio de quebrar, como se quebra um cristal... Tão tenro e tão intenso... Como pode?

Outro gole de café e me lembro da janela aberta, volto para fechá-la, novamente o vizinho olha meio que hipnotizado, seria a música alta? - Assustada, olho-me de cima abaixo na incerteza de estar ao menos composta diante do quadro patético de minha presença sob olhar do vizinho. Fecho a janela com a força que explode de minha alma. 

Do renascer...

Daquilo, daquele ou de quem... A vida tem caminhos que a gente desconhece... Estranhamente, você pode passar a sua vida inteirinha na rotina dos dias e no cansaço do peso de uma relação acomodada no companheirismo e na amizade dos anos, sem notar que lá fora o mundo urge, frenético, sem tempo para seu passo arrastado... Estranhamente, você pode acordar numa manhã e perceber que tudo aquilo que você procurou uma vida inteira pode estar do outro lado de sua história, na contramão do seu destino, no olhar conservador e enigmático do tempo... Estranhamente, você pode começar a sentir falta de coisas que antes pareciam inimagináveis e passa a rever toda a sua trajetória e onde todos seus medos perdem força e todos seus argumentos passam a ser a sua única esperança de alguma lucidez...

Depois de algum tempo no ostracismo da dor ou da dúvida, na preservação dos afetos, no recuo estratégico dos sentimentos, a gente vai percebendo que ainda há lugar para a bondade, ainda há lugar para o calor, ainda que na frieza da vida encontremos inverdades e infelizes viventes, há algum resquício sim, de humanidade entre os homens... Renascemos como remanescentes de nós mesmos e vamos buscando novas formas de convívio, de amor e de zelo.

Renascer impacta. Domina. Transforma.
Não importa a idade que você tenha - é uma especie de acordar do mundo caótico de si mesmo para uma espécie de vida após a vida... Saímos ou caímos novamente no mundo das ilusões? - Não sei dizer... Mas no meu caso, já não me importa. Renasço e me sinto tão inteira e íntegra de mim que nenhuma canção de amor poderia contar minha história!

O tempo enquanto passa intrépido, deixa para nós como herança, as marcas de nossa trajetória. Nenhuma canção cantaria o suficiente o nosso início, meio e fim... As lutas, as marcas de dor e de saudade, as formas de amar que nem sempre valeram a pena, as horas de insônia e o belo ritual de enamorar-se, nenhuma música cantará o suficiente as horas insones, as rusgas e as voltas, as lágrimas e os sorrisos, não haverá nunca um só soneto que revele tão vivamente os versos que pulsam em nossas veias..

E que todos os versos de amor sejam também de coragem, porque renascer é para poucos. E coragem é para os fortes.

Boa noite pessoinhas!