quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Metamorfose de Natal.

E todo dia deveria ser natal.

Deveria ser, porque as pessoas se tornam incrivelmente mais amorosas, mais preocupadas com o próximo, menos avarentas e sombrias... Falam mais de Deus e se não falam pelo menos se aproximam um pouco mais da beatitude com gestos de compaixão e brandura. Não se ouve gritos, não se ouve brigas, não há revolta. 

Irmãos se procuram, filhos rebeldes passam a noite em casa, mães insones têm uma noite tranquila...

E todo dia deveria ser natal para o porteiro do prédio que ganha um ar solene ao abrir a porta, a faxineira que abre um sorriso cândido ao ser cumprimentada e finalmente observada em seu trabalho quase imperceptível para os demais... Poderia ser natal todo dia para diminuir a violência no transito e para as crianças poderem ir brincar alegres na praça, longe de seus tablets, ipod's e sinais de wifi... com outras crianças que talvez não tenham ganhado nada além de um calçado novo ou uma bola de plástico.

É que no dia de natal todo ser humano sofre uma metamorfose de humildade. Despe-se de sua couraça de homem e mulher  e volta a ser filho de Deus. Mesmo que não saiba, mesmo que não acredite na fé cristã... Há uma mágica proporcionada pela vida que transforma tudo em amor. E amor quando é abundante ele expande como pedra lançada na água... cria ondas de amor e fraternal desejo de bondade... poderia ser assim todos os dias.

Boas festas.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Asas...

"Quero a plenitude do voo tranquilo da garça, da graça sem graça do palhaço velho que sorri, do acalentar dos anos que nos torna tão maleáveis quanto a fumaça de um incenso. Quero asas. Quero transcender." _Cau Oliveira.

Boa noite pessoas de bem!

domingo, 14 de dezembro de 2014

O Amor é feito de laços e de abraços.

Quando eu era menina e até a minha adolescência tive como amigas íntimas duas irmãs - Nicinha e Renata - Nicinha, como o próprio nome diz, era mignon, de uma beleza suave, terna... Renata, uma garota sedutora, corpo de sereia, aliás era assim que os meninos do bairro a chamavam em suas rodinhas de meninos: Renata Sereia (suspiros ao vê-la passar).

Minha família era muito humilde, apesar de morarmos em um bairro classe média, havíamos perdido ao longo do tempo, muito do nosso poder aquisitivo, após a morte de minha mãe. Então eu não podia acompanhar as garotas do bairro com roupas caras e passeios de fim de semana em lugares tops da época, como a sorveteria São Domingos, na Savassi... Mas dava para ir no Cidade Nova ou no Roque do Padre todo domingo a noite após a missa... Naquela época tudo era mais seguro e a gente andava de um bairro ao outro em grupos de seis a oito pessoas entre garotos e garotas, apé mesmo.

Quando eu saia com as meninas, era sempre para ir ao Roque do Padre, paquerar os gatinhos que tocavam numa espécie de show de bandas de rock de garagem... Eu podia sair com elas porque o pai delas era amigo de meu pai, e ele levava e buscava a gente de carro... Eu passava as tardes de domingo lá na casa delas vendo-as se produzirem e não tinha inveja, até mesmo porque eu nunca teria condições financeiras para comprar os cremes de cabelo, roupas e acessórios que elas tinham... Era uma espécie de contemplação daquilo eu achava que eu nunca poderia ser_ bonita.

A beleza está nos olhos de quem vê. E eu via duas garotas lindas!
Meninas que, cada uma a sua forma, tinham poderes incríveis de atrair a atenção dos gatinhos, eu ficava ali, na expectativa de, quem sabe, algum colega também, não tão bonito, mas inteligente (ao menos isso!) me desse confiança.

Essa relação de admiração, amizade e carinho durou até os 15 anos da Renata. Quando ela engravidou e Nicinha brigou feio com ela... Naquela época, era comum adolescentes casarem gravidas para apagarem o mal feito (?), e Nicinha se sentiu preterida com isso, afinal era mais velha que Renata. Acho que ela pensava que teria por direito que casar primeiro.

Acabei me afastando das duas e ambas seguiram suas vidas. Nicinha faleceu décadas mais tarde, vítima de uma doença que ninguém nunca soube explicar bem. Renata, teve uma filha que como a protagonista da história, é tão doce quanto o nome_Pollyanna_continua linda e já deve ter passado dos quarenta anos, casou-se novamente e teve mais um filho.

Relembrar isso tudo me trouxe uma sensação de impermanência... Estranhamente revi em minha mente e em meu coração outras tantas histórias de afeto genuíno e amizade que o tempo foi rompendo devagarinho o elo que eu julgava ser para sempre.

O tempo é intangível e por certo atravessá-lo requer muito mais de nós do que propriamente dele... Me pergunto onde fui e o porque de ter deixado tantos elos frouxos... Se terei tempo de apertá-los novamente em um abraço bem apertado, bem sentido, daqueles que a gente fecha os olhos, respira fundo e sente não só o perfume, mas a alma, o coração vibrando de felicidade pelo reencontro. - Como Amma, a grande Deva indu, que é conhecida aqui no ocidente como a "Santa dos abraços", ela distribui abraços indistintamente como doação divina de amor e caridade. Cada abraço é um encontro de alma, uma conexão divina consigo mesmo e com o Deus que habita no coração de cada um que recebe este gesto de amor e laços.

Sim! O amor é feito de laços e também desses abraços. E como preciso deles...

Linda noite pessoal.

*Para Nicinha. Que Deus a tenha em seus braços.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Enquanto o Cão ladra a Caravana passa.

A alma perdida do ser humano é bem parecida com a noite escura.

Tem assombros de medo, tem assombros de dar medo!

Estou convicta de que certas reações emotivas são assombros desta escuridão que a gente não vê mas sabe que existe. Este véu negro que nos aproxima cada vez mais do perigo sem ao menos nos dar conta. 

Tive sorte, muita sorte, das luzes se ascenderem assim que o alarme disparou (instinto?) e pude correr a tempo de não me machucar demais. Mas dá dó ver tal qual bicho a espreita de dar um bote, uma alma perdida, vagando nas sombras de si mesmo, buscando em restos de uma vida sem sentido, os holofotes que o escraviza.

Gosto de ver o brilho das pessoas pelo olhar. Acariciar o ser que habita além de seus corpos, ver a criança que brinca dentro de si e que cintila, exalta luz... Tenho medo da noite dos homens, de seus bichos soltos e do coração turvo deles...

Sempre fui um ser medroso, mas não me acovardo. Sigo minha trilha, seja ela escura, clara ou assombreada  - dias de sol e de chuva sempre existirão e as noites também. Sou grata aos amigos e pessoas que me ajudam a seguir em frente e me dão segurança diante de meus medos.

Meu desafio não está sendo seguir a trilha, mas ficar longe desta onça que cutuquei com vara curta; se dou "pernas pra que te quero", se passo "sebo nas canelas", como ficarão as pessoas que seguirão após a mim? - Não posso me acovardar, mas também não posso deixar de me proteger.

De todas as noites escuras e sombrias, esta não me apavora porque a chama da claridade se fez compartilhada - amigos, parentes, pessoas distantes e incomuns se uniram com sua claridade espontânea, com seu brilho interior - Nesta noite escura que parece não ter fim, chove. E eu fico daqui do meu cantinho, pensando: - Enquanto o cão ladra, não é que a caravana passa???