domingo, 14 de dezembro de 2014

O Amor é feito de laços e de abraços.

Quando eu era menina e até a minha adolescência tive como amigas íntimas duas irmãs - Nicinha e Renata - Nicinha, como o próprio nome diz, era mignon, de uma beleza suave, terna... Renata, uma garota sedutora, corpo de sereia, aliás era assim que os meninos do bairro a chamavam em suas rodinhas de meninos: Renata Sereia (suspiros ao vê-la passar).

Minha família era muito humilde, apesar de morarmos em um bairro classe média, havíamos perdido ao longo do tempo, muito do nosso poder aquisitivo, após a morte de minha mãe. Então eu não podia acompanhar as garotas do bairro com roupas caras e passeios de fim de semana em lugares tops da época, como a sorveteria São Domingos, na Savassi... Mas dava para ir no Cidade Nova ou no Roque do Padre todo domingo a noite após a missa... Naquela época tudo era mais seguro e a gente andava de um bairro ao outro em grupos de seis a oito pessoas entre garotos e garotas, apé mesmo.

Quando eu saia com as meninas, era sempre para ir ao Roque do Padre, paquerar os gatinhos que tocavam numa espécie de show de bandas de rock de garagem... Eu podia sair com elas porque o pai delas era amigo de meu pai, e ele levava e buscava a gente de carro... Eu passava as tardes de domingo lá na casa delas vendo-as se produzirem e não tinha inveja, até mesmo porque eu nunca teria condições financeiras para comprar os cremes de cabelo, roupas e acessórios que elas tinham... Era uma espécie de contemplação daquilo eu achava que eu nunca poderia ser_ bonita.

A beleza está nos olhos de quem vê. E eu via duas garotas lindas!
Meninas que, cada uma a sua forma, tinham poderes incríveis de atrair a atenção dos gatinhos, eu ficava ali, na expectativa de, quem sabe, algum colega também, não tão bonito, mas inteligente (ao menos isso!) me desse confiança.

Essa relação de admiração, amizade e carinho durou até os 15 anos da Renata. Quando ela engravidou e Nicinha brigou feio com ela... Naquela época, era comum adolescentes casarem gravidas para apagarem o mal feito (?), e Nicinha se sentiu preterida com isso, afinal era mais velha que Renata. Acho que ela pensava que teria por direito que casar primeiro.

Acabei me afastando das duas e ambas seguiram suas vidas. Nicinha faleceu décadas mais tarde, vítima de uma doença que ninguém nunca soube explicar bem. Renata, teve uma filha que como a protagonista da história, é tão doce quanto o nome_Pollyanna_continua linda e já deve ter passado dos quarenta anos, casou-se novamente e teve mais um filho.

Relembrar isso tudo me trouxe uma sensação de impermanência... Estranhamente revi em minha mente e em meu coração outras tantas histórias de afeto genuíno e amizade que o tempo foi rompendo devagarinho o elo que eu julgava ser para sempre.

O tempo é intangível e por certo atravessá-lo requer muito mais de nós do que propriamente dele... Me pergunto onde fui e o porque de ter deixado tantos elos frouxos... Se terei tempo de apertá-los novamente em um abraço bem apertado, bem sentido, daqueles que a gente fecha os olhos, respira fundo e sente não só o perfume, mas a alma, o coração vibrando de felicidade pelo reencontro. - Como Amma, a grande Deva indu, que é conhecida aqui no ocidente como a "Santa dos abraços", ela distribui abraços indistintamente como doação divina de amor e caridade. Cada abraço é um encontro de alma, uma conexão divina consigo mesmo e com o Deus que habita no coração de cada um que recebe este gesto de amor e laços.

Sim! O amor é feito de laços e também desses abraços. E como preciso deles...

Linda noite pessoal.

*Para Nicinha. Que Deus a tenha em seus braços.

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