segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Entre Confetes e Serpentinas... A commedia dell'arte

Acho que o último carnaval que eu brinquei foi a uns cinco anos atras subindo as ladeiras da histórica e alvoroçada Mariana, acompanhando os blocos e tentando entender a marcha e o compasso de uma amiga que hoje já não tenho tanto contato.

Os tempos eram outros, eu era outra.

Naquela época eu vivia numa fase de me bastar, ao mesmo tempo, todo meu desejo era de encontrar naquela folia alguém para amar e ser amada. Eu era toda ânsia, era toda busca e espera contra um tempo que tinha data e hora para acabar.

Sem saber, corria no cordão da alegria, mas meu coração ia triste e deserto, minha alma escondia por entre as Igrejas centenárias, a cada quarteirão daquela folia, havia uma verdade que me fazia penitenciar do meu inacessível sonho.

Eu era uma pessoa desastradamente infeliz usando dia e noite a máscara da Colombina sem saber... Apaixonada por um Arlequim que até então nem sabia de meus suspiros e esperanças, a espera do encontro fortuito, entre confetes e serpentinas, com o acaso, com o destino, e com o predestinado Pierrot que pudesse me salvar de toda aquela angustia, de toda aquela espera...

Pode parecer estranho, mas no meio de tanta alegria, havia um coração sofrido, se escondendo no emaranhado de papel picado, no barulho das marchinhas que graciosamente conduziam os bonecos gigantes pelas ruas apertadas e cheias de gente.

A vida não espera. Ela urge... As amizades desta trama ficaram no passado, tão íntima, tão bonita, como uma arte dramática, se desfez e cada um de nós tomou seu rumo... Findo o trio de Pantaleão, nem mesmo os confetes e as serpentinas não souberam que, por um tempo, eu pensei que nesta vida só poderia contar com ela. A honestidade da amizade. A grande riqueza é na verdade o aprendizado e eu me vi presa numa teia de conflitos infelizes, em um enredo de tristes e melancólicas vidas, unidas pela trama da improvisação do destino mas salvas pelas ruas e praças daquela cidade.

O tempo passou e agora somos caricaturas de vários outros personagens. E quantos personagens somos ao longo de nossa vida... O que a nossa vaidade nos faz ser a cada dia, a cada compromisso, a cada novo espetáculo... Do beijo roubado por entre a multidão, ao desconsolado e embriagado castigo de permanecer só, no banco da praça a ver o nada entre tanta gente. Quem são a Colombina, o Pierrot e o Arlequim de nossa história...Por que a vida exige tanto de nós e nos torna tão exigentes?

Afastar das pessoas que durante décadas foram tão importantes me trouxe à consciência de que eu não me basto, nem eles... Cada um de nós improvisamos e fugimos, ao nosso modo, do script padrão... E minha lembrança deste carnaval não me deixa saudades, mas me comove. Queria ter deixado minha descuidada Colombina lá em Mariana, a dançar sob a luz da lua e dos lampiões a gaz... Sonhando com o fogoso e sedutor Arlequim, enternecida pelo comovente Pierrot...

Ah, se em três dias de carnaval pudéssemos nos despir de todas as máscaras e fantasias... Se pelo menos pudéssemos...


Um comentário:

  1. Muito bem colocada essa conotação sobre máscaras e fantasias... acho q tem muita mulher por aí usando dia e noite a máscara da Colombina.. e podemos estar no meio de tantos risos, tanta alegria e se esconder... pq nada adianta suspiros e esperanças, a espera do encontro fortuito se ele nunca acontece.

    Bjs

    Sirlene

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