Acho mesmo que São Valentim deve ser uma espécie de Santo Antonio casamenteiro, mas que por observâncias e interesses da Igreja, para não ter problemas de um santo com o outro santo, ficou-se estabelecido que um cuida cá dos apaixonados dos trópicos e o outro assiste ao pobres corações ao redor do mundo.E o mundo é tão grande... Os sentimentos são tantos e tão confluentes e ao mesmo tão iguais! Afinal, quem não quer estar no paraíso dos amantes e ser correspondido!
Vivemos em um mundo tão confuso e tão pouco romântico, poucos gestos e hábitos resistiram a tanta mudança... O abraço que envolve e juntos, corpos colados, poder dançar uma música única e imaginária... mas antes de tudo, ter uma música imaginária! - cozinhar para o outro, preparar-se para o outro, florescer como as rosas de um buquê e exalar-se todo em todos os perfumes para o outro; sonhar com os anjos e corações apaixonados de um cartão metodicamente bem escrito e caprichadamente perfumado!
Encontrei meu amor nas redes sociais. Pareceu-me ao primeiro momento, bastante ousado e estranho isso. Sou do tempo em que os parentes e amigos apresentavam os conhecidos solteiros ou se conhecia em festinhas, clubes, encontros ao acaso... Acontece que, o acaso se transformou em sites de encontro e relacionamento, páginas em redes sociais e grupos de afinidades... É estranho e ao mesmo tempo contemporâneo tudo isso, e ser contemporâneo, atualmente, parece ser a única alternativa para quem busca encontrar o seu príncipe antes de sair por ai beijando sapos.
Acho que algumas coisas jamais irão mudar com relação ao amor [mesmo que lá na frente se vá encontrar um parceiro através de um longo cadastro preenchido em um balcão de algum estabelecimento público, registrado em cartório para evitar fraudes e danos morais] - tenho comigo que o cupido virá, como enviado de São Valentim (ou Santo Antonio) de uma forma ou de outra e irá fazer os olhares se cruzarem e os pés saírem do chão, as mãos esfriarem de repente e por mais que se esfregue uma na outra, uma absurda energia parecerá deixá-las sem conexão com o restante do corpo... Para eles, o amor não se escondeu nas malucas mudanças do destino, para eles o amor continua eternizado na seta do cupido e nas preces rogadas pelas beatas casamenteiras.
Aparte disso tudo, há de se lembrar do lado negro do amor. As sombras em que ele as vezes parece querer ficar e nos lançar como infelizes e sofredores... Como o lado negro da lua, como as noites eternas e frias no Saara... O amor as vezes nos machuca tanto e nos condiciona a tanto sofrimento que acabamos por não querer nos revelar, sem nos assumir por inteiro, com nossos medos, nossas dúvidas e nossos problemas do dia a dia... As contas a pagar, as tarefas diárias, o aluguel e as contas do mês... Sobreviverá o amor a tantas cifras? Sobreviverá o amor ao amargo sabor das contingências e dos poucos recursos? Poderá este amor desafiar as leis da paixão e estabilizar-se além das dúvidas e do sofrimento?
Me pergunto o que pode fazer o amor diante do ser humano que padeceu de sua dolorida escuridão...
Queria, um dia, conhecer alguém que viveu um amor de espera para poder conversar e entender como poder ser tão humilde e resignado. Paciente e cheio de renuncia... Desse tipo de amor que consola, une, abraça e acalma nosso coração... Desse sentimento que nos fala a alma, além das redes sociais e das mudanças que renovam o mundo. Porque eu acredito, que no fundo, no fundo, o amor sempre foi, é e será a velha e boa expectativa de se ter alguém que nos faz mais fortes, mais felizes, mais autênticos... Como um sentimento que nos limpa a mente de toda a poluição racional que por necessidade vamos nos emaranhando, vai, assim, nos limpando, nos deixando mais claros e portanto, mais lúcidos para a vida.
* O dia de São Valentim, ou Valentine's Day é comemorado no dia 14/02.
* Créditos das imagens: http://ohjoy.blogs.com/my_weblog/2013/02/valentines-day-floral-friendship-bracelets.html